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Quando o tricô vira um quebra-cabeça : suéter Flax com fio Marfim

Porque até a teimosia (e uma choradinha no azulejo da cozinha) pode virar um final feliz em tricô.

Olá! Feliz equinócio de primavera!
Que a nova estação chegue suave, acolhedora, e sopre novos ares para renovar suas energias. 🪻

Esse texto nasceu com cheiro de fim de verão, como convite para sonhar com projetos de outono e inverno. Mas, como o tricô também respeita seus próprios tempos, só agora consegui escrevê-lo. E acredito que ele não carrega pressa: permanecerá atual em mais de uma ocasião. Guarde-o como quem guarda uma receita de chá para dias frios… um tesouro aconchegante. Agora, sem mais delongas, vamos aos suéteres.

O Fio

Foi no armarinho As Mariposas, no ano passado, que conheci o fio Marfim, talvez ainda no seu lançamento. Encantei-me pela textura macia, pela névoa delicada que paira sobre a malha quando tricotada, envolvendo os pontos sem apagar sua definição. O degradê se desenrola como um pôr do sol, sem linhas marcadas, sem manchas, apenas passagem serena de tons. Pensei comigo que, um dia, ele viraria projeto. E o deixei repousar na prateleira dos desejos

Alguns meses depois, recebi da empresa cinco novelos do Marfim, na cor Coffee. Fiquei feliz, poderia resgatar o meu desejo da prateleira. O novelo, em formato tubular, traz na parte externa sempre a cor natural (não é branco: é um quase, um suspiro de cor a mais). O degradê, então, nasce desse tom suave e vai se aprofundando até o coração do novelo. A etiqueta indica que se puxe o fio pelo centro, começando o trabalho pela última cor, mas isso é só um detalhe.

O fio Marfim é composto de 71% acrílico, 18% poliamida e 11 % poliéster, com 400 metros de fio em cada novelo. O rótulo indica agulhas 05 mm, porém não gostei da amostra que fiz com esse tamanho, acredito que seja pelo hábito dos amigurumis mas prefiro pontos fechados e uniformes, consegui isso com as agulhas 4,5 mm. A malha ficou densa, uniforme e macia. A minha amostra ficou com 20 pontos de largura e 30 rodadas altura em 10 cm.

Confesso: para mim, isso é um detalhe menos encantador. Não gosto de novelos assim. Com o tricô avançando, a estrutura facilmente se desmancha ou se embola, não importa por qual ponta se inicie.

Os fios foram descansar no acervo, como quem repousa em silêncio à espera do momento certo, aguardando o projeto perfeito, mas permaneceram nos meus pensamentos.

O fio apresentou 12 voltas por polegadas e eu o classifiquei com espessura Sport, que tem por indicação agulhas 3,5 a 4,5.
O Projeto

De todos os tricôs possíveis no mundo, o que mais amo tecer são os amigurumis. Entretanto, o trabalho criativo também cansa, e às vezes é preciso tricotar apenas por tricotar, para deixar que a brasa da criatividade volte a acender. Esses projetos funcionam como pequenas pausas: revisito técnicas, descubro novas formas e, de repente, sinto aquele quentinho interno que preenche e traz de volta a vontade de mover as mãos e criar. Um dia ainda escreverei sobre isso com calma. Mas agora, volto ao tema principal deste post: os suéteres.
Folheando distraída o feed do Instagram, vi o post de uma amiga que havia finalizado o suéter Flax em um tom de azul profundo, quase oceânico. Imediatamente fui procurar a receita no site do Ravelry. O projeto era impecável: uma construção simples, trabalhada da gola à barra (top down), sem costuras, com um detalhe encantador nas mangas, desenhado por cordões em ponto meia. A simplicidade elegante do Flax parecia feita sob medida para o degradê sereno do fio Marfim.

As autoras Alexa e Emily do @tincanknits, são cuidadosas na escrita de seus padrões, oferecendo opções generosas: tamanhos que vão de 0–3 meses até 6XL, possibilidade de trabalhar com ou sem carreiras encurtadas, diferentes comprimentos de mangas e ainda duas espessuras de fio (DK ou fingering). A receita é em inglês, mas facilmente traduzida pelo tradutor do celular, o padrão é simples de memorizar e a receita fica apenas para consultas em um momento ou outro. Você pode baixar o padrão aqui.

Aqui o corpo do suéter menor finalizado 🙂

No meu caso, optei pelo mais simples: tricotei sem carreiras encurtadas, começando pela parte natural do fio. Fiz a pala e o corpo no tamanho P e alonguei as mangas no tamanho M, para que o suéter caísse perfeito em mim.
Para a Aurora, escolhi o tamanho de 4 a 6 anos que ficaria perfeito para ela por um bom tempo, e ver o degradê ganhar vida na peça pequena foi como assistir a uma aquarela se espalhando no tecido.

Sou uma pessoa naturalmente insistente, teimosa mesmo (risos). E isso é, ao mesmo tempo, uma grande virtude e um defeito na mesma medida.
No caso dos suéteres, a teimosia se transformou em regra: eu precisava que o degradê seguisse perfeito, sem quebras abruptas. Não fazia sentido para mim, visualmente, ver o degradê interrompido nas mangas, por exemplo. E foi aí que encontrei a parte mais complicada de todo o processo.

Comecei pelo corpo do suéter menor, que consumiu pouco mais da metade de um novelo, deixando como sobra os tons mais escuros do marrom. Coloquei esse projeto em espera e parti para o corpo do suéter maior, ambos iniciados pela cor natural do novelo. Usei um novelo inteiro e o restante que havia sobrado do suéter menor. O primeiro encaixe de cores aconteceu como mágica! Ficou perfeito! 🥰

Detalhes dos cordões em meia nas mangas do suéter maior. 🤎

Formou-se diante de mim um quebra-cabeça tricosístico: como encaixar o degradê nas mangas? Sobre a mesa, repousavam os dois corpos de suéteres e mais dois novelos completos. Já havia compreendido o rendimento do fio e sabia que eles seriam suficientes para as quatro mangas. Ao observar as peças lado a lado, percebi que o encaixe do suéter maior concentrava mais marrom do que o menor. Isso significava que eu precisaria desenrolar o novelo até encontrar a cor exata para encaixar e, só então, seguir com o tricô.

A sobra desse processo se ajustou perfeitamente no suéter menor, mas trouxe uma nova questão: as mangas do suéter menor terminariam no tom natural, enquanto as do maior acabariam no marrom. Queria os dois idênticos, mas naquele momento dei um basta em mim mesma e afoguei a teimosia em uma frase simples: “Está perfeito assim. Pare de inventar moda!”

Sobrou todo esse fio dos dois novelos destinados para as mangas.

Fiz os encaixes de cor, finalizei as mangas, bloqueei os suéteres e fiquei encantada, desejando mais dias frios só para poder usá-los. Vestir o suéter Flax tricotado com o fio Marfim é como receber um abraço quentinho de uma nuvem macia. Usei agulha 4,5 em todo o projeto, o que deixou os pontos bem fechados, mas ainda maleáveis. O resultado foi uma peça aconchegante, perfeita para aqueles dias de inverno em que o vento corta e tudo o que queremos é nos enroscar em algo quente enquanto seguimos com a vida.

Mas não pense, querida leitora, que foi tão simples quanto parece. Foram alguns dias de reflexão e até uma choradinha no chão da cozinha antes de encontrar a solução. Essas partes do processo são sofridas, mas igualmente deliciosas: fazem parte do que é o verdadeiro ofício manual.

Totoro bordado com a técnica de ponto sobre ponto.

No suéter menor, bordei um dos personagens mais amados desta casa: o Totoro. Bordar no tricô é uma experiência quase mágica — transforma a peça mais simples em algo extraordinário. Estou preparando uma aula sobre bordados para o próximo post.

O tricô, para mim, é mais do que fios e pontos, é trabalho, é tempo, é respiro, é uma forma de abraçar a vida com calma. Cada peça carrega histórias, esperas, alegrias e até pequenas teimosias que se transformam em beleza. E é por acreditar nessa troca que sigo escrevendo aqui, costurando palavras e fios, compartilhando o que sei e o que descubro.
Se este texto trouxe inspiração, aconchego ou até um sorriso no meio do seu dia, deixo um pedido simples: leve essa energia adiante! Compartilhe o meu perfil com uma amiga, curta, comente, compartilhe ou salve este conteúdo nas minhas redes.✨

Esses gestos são como laçadas invisíveis que me ajudam a continuar tricotando histórias e projetos, mantendo viva essa rede de afeto que construímos juntas. 🥰

Obrigada por ler até aqui, logo volto com um post especial sobre o bordado! Abraços e até breve 🌙

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